terça-feira, 29 de junho de 2010


Já escondi um AMOR com medo de perdê-lo, já perdi um AMOR por escondê-lo.
Já segurei nas mãos de alguém por medo, já tive tanto medo, ao ponto de nem sentir minhas mãos.
Já expulsei pessoas que amava de minha vida, já me arrependi por isso.
Já passei noites chorando até pegar no sono, já fui dormir tão feliz, ao ponto de nem conseguir fechar os olhos.
Já acreditei em amores perfeitos, já descobri que eles não existem.
Já amei pessoas que me decepcionaram, já decepcionei pessoas que me amaram.
Já passei horas na frente do espelho tentando descobrir quem sou, já tive tanta certeza de mim, ao ponto de querer sumir.
Já menti e me arrependi depois, já falei a verdade e também me arrependi.
Já fingi não dar importância às pessoas que amava, para mais tarde chorar quieta em meu canto.
Já sorri chorando lágrimas de tristeza, já chorei de tanto rir.
Já acreditei em pessoas que não valiam a pena, já deixei de acreditar nas que realmente valiam.
Já tive crises de riso quando não podia.
Já quebrei pratos, copos e vasos, de raiva.
Já senti muita falta de alguém, mas nunca lhe disse.
Já gritei quando deveria calar, já calei quando deveria gritar.
Muitas vezes deixei de falar o que penso para agradar uns, outras vezes falei o que não pensava para magoar outros.
Já fingi ser o que não sou para agradar uns, já fingi ser o que não sou para desagradar outros.
Já contei piadas e mais piadas sem graça, apenas para ver um amigo feliz.
Já inventei histórias com final feliz para dar esperança a quem precisava.
Já sonhei demais, ao ponto de confundir com a realidade... Já tive medo do escuro, hoje no escuro "me acho, me agacho, fico ali".
Já cai inúmeras vezes achando que não iria me reerguer, já me reergui inúmeras vezes achando que não cairia mais.
Já liguei para quem não queria apenas para não ligar para quem realmente queria.
Já corri atrás de um carro, por ele levar embora, quem eu amava.
Já chamei pela mamãe no meio da noite fugindo de um pesadelo. Mas ela não apareceu e foi um pesadelo maior ainda.
Já chamei pessoas próximas de "amigo" e descobri que não eram... Algumas pessoas nunca precisei chamar de nada e sempre foram e serão especiais para mim.
Não me dêem fórmulas certas, porque eu não espero acertar sempre.
Não me mostre o que esperam de mim, porque vou seguir meu coração!
Não me façam ser o que não sou, não me convidem a ser igual, porque sinceramente sou diferente!
Não sei amar pela metade, não sei viver de mentiras, não sei voar com os pés no chão.
Sou sempre eu mesma, mas com certeza não serei a mesma pra SEMPRE!
Gosto dos venenos mais lentos, das bebidas mais amargas, das drogas mais poderosas, das idéias mais insanas, dos pensamentos mais complexos, dos sentimentos mais fortes.
Tenho um apetite voraz e os delírios mais loucos.
Você pode até me empurrar de um penhasco q eu vou dizer:
- E daí? EU ADORO VOAR!

Clarice Lispector

sábado, 10 de abril de 2010

Que...


Que aqueles que um dia me espezinharam sejam ressarcidos pela justiça divina e suprema, para que possam, acima de tudo, enxergar que estão sob o mesmo solo que eu;
Que o lado positivo do sofrimento dê lugar às coisas grandiosas;
Que as amizades que construí sejam guardadas e mantidas em minhas entranhas;
Que a vida tão despida de magia fique para trás, num passado remoto;
Que eu tenha coragem para enfrentar e lutar, e também para saber perder, cair e levantar – para o meu próprio amadurecimento;
Que eu possa levantar vôo sempre que eu achar necessário;
E que me venham agora todos os sonhos que urdi no meu eu mais inconsciente, pois a vontade de viver é deveras imensurável e infrene!



Bendito sejais vós, que me devolveu a paz tão premente!


Brunna M.

sábado, 27 de março de 2010


Texto original:

"Amanhã faz um mês que a Senhora está longe de casa. Primeiros dias, para dizer a verdade, não senti falta, bom chegar tarde, esquecido na conversa de esquina. Não foi ausência por uma semana: o batom ainda no lenço, o prato na mesa por engano, a imagem de relance no espelho.
Com os dias, Senhora, o leite primeira vez coalhou. A notícia de sua perda veio aos poucos: a pilha de jornais ali no chão, ninguém os guardou debaixo da escada. Toda a casa era um corredor deserto, até o canário ficou mudo. Não dar parte de fraco, ah, Senhora, fui beber com os amigos. Uma hora da noite eles se iam. Ficava só, sem o perdão de sua presença, última luz na varanda, a todas as aflições do dia.
Sentia falta da pequena briga pelo sal no tomate — meu jeito de querer bem. Acaso é saudade, Senhora? Às suas violetas, na janela, não lhes poupei água e elas murcham. Não tenho botão na camisa. Calço a meia furada. Que fim levou o saca-rolha? Nenhum de nós sabe, sem a Senhora, conversar com os outros: bocas raivosas mastigando. Venha para casa, Senhora, por favor." (Apelo, Dalton Trevisan)


Resposta:

As meias, senhor, as meias eu vou ensinar como se costuram. Primeiro, é preciso alinhavar o tempo. Achar a ponta mais longe e desfazer os embaraços, partindo do fim para o começo. Eu já estava no ônibus quando hesitei, quando desci no primeiro ponto que a agulha desfez entre nós. Subi as escadas em caracol, tentando cerzir a nossa fazenda já estampada de flores tão murchas e, por mais um instante, voltei para casa, senhor. Olhei a casa, senhor.

Uma camisa jogada no chão, de braços abertos. Meu apelo em cada canto do quarto. O batom, o vestido. A meia encolhida, sem par. A rede pendurando, solitária, um sorriso na varanda. À espera de um outro sorriso, talvez. Mas o sorriso, na borda da xícara, o senhor esqueceu. A alça sem os laços do seu dedo. Minhas mãos na cintura. Nós dois rodopiando pela sala, em voltas que a cera apagou. E que devem ser as voltas dessa agulha, - essa que ensina a costurar um tecido ferido, senhor.

Depois, é preciso desatar as linhas. As linhas que o senhor me escreveu nessa carta, e me trouxe a essa casa um mês depois. Então era isso senhor? O leite coalhado? As teias de aranha costurando as fendas no teto? O saca-rolha perdido? A meia furada? A camisa sem botão... O botão sem a casa. A casa. A casa. A casa? O prato na parede. O jarro na parede. A estátua na parede. O relógio tremendo no chão. O ponteiro no cinco. O ponteiro no cinco. O ponteiro no cinco. Uma camisa de braços rasgados. O retrato em duas partes. Um grito alto. As mãos no colo, em abandono. Ouve agora o meu apelo, senhor?